O vento balançava o capim alto, comum nas fazendas de Minas. Grandes terras, muito espaço, a perder o verde de vista. O mesmo verde que era da cor dos olhos do menino, que tinha 5 anos, em 1935.

O menino brinca sozinho, com seus amigos imaginários, que corriam pelo capinzal. O vento sopra, e mais uma vez, faz o capinzal mudar de cor: de verde, para branco, contra a força do vento.

O menino era magrinho, tinha os olhos verdes, cor de azeitona, da cor do capinzal. Suas risadas ecoavam pelas terras e faziam o campo parecer ainda maior.

De repente, um barulho estranho, diferente do vento, diferente das risadas dos amigos imaginários , diferente do eco de suas risadas.

Era um barulho, um bafo, uma respiração ofegante, algo que gritava para o menino: “ corre, corre, corre, muito. Senão eu vou soprar, e sua vida eu vou derrubar.”

Ele correu. Correu mais que tudo. Correu como nunca. Correu como ele nem sabia, mas devia. Sabia que precisava correr, correr, correr, sem razão, sem fôlego, sem forças, com todas as forças que um menino como ele nem sonhava em ter.

Quando avistou a cerca. A cerca alta, com arame farpado, que separava sua fazenda da outra. Pulou por cima dela, caiu e esperou pelo pior. Logo depois, um baque surdo. O lobo bateu as fuças e caiu estatelado.

Na volta, no caminho de casa, o menino sentiu uma picada no braço esquerdo. Pensou: “ que mosquito chato”. 58 anos depois, ele descobriria que não era um mosquito. Era o barbeiro preto de pintas vermelhas. O barbeiro de chagas.