Uma das palavras em inglês que mais gosto é “Nostalgia”. O som diferente do português, como se tivesse esse acento agudo no primeiro “a”, como está no título. Então, não é erro de português, nem de revisão. É apenas como gosto de pronunciar essa palavra: “nostálgia”. Abrindo bem a boca, sentindo cada letra.

Aliás, ela tem me rondado muito ultimamente. Sinto saudades de tudo e de todos. Dizem que olhar pro passado não é bom, pois “no futuro que viverei o resto da minha vida”. Ou que “olhar pra trás é perigoso, pois você pode tropeçar”. Mas às vezes, um tropeço te faz acordar, ver que talvez você esteja olhando demais pro futuro.

“O passado também é importante”- retrucariam os museus. A cultura de um povo é feita do seu passado ainda vivo no presente, para que sirva de exemplo para o futuro. E os idosos, quanto podem nos ensinar? Quanta história, quantos ensinamentos, quantos exemplos cabem nessas almas cheias de nostalgia.

Resolvi escrever sobre isso porque, novamente, ouvi o apito de um trem, que passa a poucos metros daqui de casa. O estranho é que moro aqui há 10 anos, e só há poucos meses, percebi o apito do trem. Lindo, macio, longo, repetido. Ele está lá no fundo da minha audição e da minha lembrança.

A nostálgia me carrega pra minha infância, pra minha rua. A poucos metros dali passava uma linha de trem, que acabou sendo esquecida com o passar do tempo. Na verdade, acho que esse trem que ouço hoje, muitas vezes nas minhas madrugadas de insônia, é o mesmo que passava naquela linha, onde ia com o meu pai catar pedrinhas para a pesquisa da escola. Tenho essa cena gravada em minha mente.

O tempo era outro, a percepção do tempo também. Lembro da gente andando tranquilamente pela rua: eu segurando forte a mão do meu pai. Não me lembro do que a gente falava, mas sinto a energia, a suavidade daquele momento. Era um silêncio oco, e, no fundo, só o apito do trem passando, eu sorrindo, o som da minha alegria ficando no ar. O olhar curioso e o sorriso do meu pai, complacente, assistindo a minha descoberta.